CASARÃO DE 1917 EM CRISTAIS PAULISTA

 


O casarão foi construído em 1917, classificado como uma Casa de Moradia. O primeiro proprietário foi Jeronymo Coelho da Fonseca, localizado na Vila de Guapuã (antiga Crystaes), município e comarca de Franca, na rua Prudente de Moraes, nº 614. A casa moradia foi construída com tijolos e telhas, possuía assoalho, forro, vidraças, instalações elétricas e fogão com chapa, medindo 20 metros de frente e 40 metros de profundidade, além de uma casa de despejo nº 624 e cisterna. Em 26 de outubro de 1917, o Senhor Eduardo Alves Pereira Caldas adquiriu a propriedade de Jeronymo Coelho. Posteriormente, em 9 de maio de 1946, a casa foi vendida por Cr$ 9 mil cruzeiros ao Dr. Cecílio Garrido Ferreira, cirurgião dentista e morador de Uberlândia. Em 22 de dezembro de 1947, a casa foi vendida a João Rozendo Marques, Lavrador, por Cr$ 10 mil. Em 10 de agosto de 1948, Francisco de Assis Branquinho, lavrador, adquiriu a casa, e em 24 de janeiro de 1950, foi vendida a Eugênio Joaquim Machado, comerciante, por Cr$ 12 mil. Na época, o imóvel contava com duas casas de moradia, uma no número 614 e outra no número 624. Em 10 de maio de 1951, a propriedade foi vendida ao Sr. Giuseppe Livera, lavrador e italiano, por Cr$ 19 mil, contendo duas casas morada. A primeira contava com alpendre, instalação elétrica com oito pendentes e respectivas lâmpadas, fogão com chapa e forno, casa de despejo, cisterna forrada, fossa coberta com telhas, quintal murado com taipas e tijolos, árvores frutíferas e outras benfeitorias.

Após o falecimento de Giuseppe Livera, seu filho mais novo, Antonio Livera, adquiriu a residência em 1961. O registro da época indica que a casa encontrava-se em mau estado de conservação.

Registro em meados de 2005

O acesso principal da casa era originalmente feito pela rua Prudente de Moraes, atual Avenida Antonio Prado, através de uma porta na fachada principal, que foi convertida em janela nos anos 1980. Com pé-direito superior a 4 metros, a altura proporcionava excelente conforto térmico ao ambiente. O piso original de assoalho de madeira e o forro também de madeira foram substituídos, em meados dos anos 2000, por contrapiso de cerâmica e forro de PVC. As janelas e portas verticais de madeira, características da época, possuíam bandeiras que maximizavam a entrada de luz natural. A cobertura da casa era em quatro águas, e a platibanda, de estilo colonial com formas lineares, apresentava ornamentos simples e linhas na fachada. Nela, foi registrada a data de conclusão da construção: 1917.


Os mais antigos lembram da casa como "A Pensão da Dona Genara", administrada por Dona Gerana, que a transformou em um ponto de hospedagem para viajantes da região. 

Acervo da Familia Branquinho em Cristais Paulista

Durante nossa pesquisa para encontrar registros fotográficos antigos da residência, encontramos duas fotografias feitas pela família Branquinho, (Fonte: Facebook), que havia adquirido a propriedade em 1948. Com esses registros, pudemos compreender os detalhes originais das janelas e portas. As janelas eram verticais, com vidro e folhas de madeira que se abriam para o interior da residência, e a porta principal, ficava entre as duas janelas. Na porta havia o número da casa, que permaneceu intacto até sua última reforma. O número era 614.

Família Branquinho em frente à casa, em 4 de outubro de 1947

Casarão em meados dos anos 60

Outro registro fotográfico, feito da caixa d'água de Cristais Paulista em meados de 1963, capturou parte do casarão no canto direito. Podemos notar que havia um alpendre anexo à casa. Com essas informações, foi possível fazer a representação da fachada por meio da elevação, adicionando cada detalhe original da casa.

Giuseppe Livera adquiriu o casarão do Senhor Eugenio Garcia Faria após vender seu sítio na região da Chave da Taquara, em 1951. Pela configuração da planta original, destinada a atender a pensão de Dona Genara, podemos deduzir que os cômodos da frente eram os quartos da pensão, conectados linearmente pelo corredor central. O acesso principal da casa era pela fachada voltada para a rua. No final do corredor, ficava a sala de jantar, enquanto, ao lado, havia uma área destinada ao banheiro, equipada com uma banheira para os hóspedes. No fundo da casa, localizava-se a cozinha, com um fogão a lenha.

Sua esposa, Maria Mantovan, faleceu um tempo depois de se mudar para o casarão. Ela gostava muito do sítio e ficou muito abalada, tendo um infortúnio em 1955.

A casa marcou um momento de celebração em 1957: Giuseppe Livera decidiu realizar a festa de casamento de seu filho, Antônio Livera, com Antônia Garcia Oller Miranda, e o casamento de sua neta, Petrolina Maria Livera, filha de Arcângelo Livera. As cerimônias ocorreram no mesmo dia, e a festa foi realizada dentro da casa, regada com muito vinho comprado por Giuseppe para celebrar a união de seu filho e de sua neta, que tinham a mesma idade. Não preciso dizer que o povo celebrou muito, na época e boa parte ficou bêbada por conta do vinho.
O layout da planta representa a configuração dos móveis da segunda geração dos Livera, em meados dos anos 60, quando seu filho Antônio Livera já vivia com sua familia. Naquela época, nem todas as pessoas tinham condições de comprar um sofá e televisão, tornando as mesas de refeições o principal ambiente de interação social. Era comum reunir amigos para jogar cartas e compartilhar momentos agradáveis ao redor da mesa.

Antônio Livera cuidou de seu pai, Giuseppe, até os últimos dias. Giuseppe teve doença de Chagas, o que o deixou enfermo. Seu neto de 3 anos era responsável por levar sopa para ele no quarto onde estava se tratando da doença, que ficava voltado para a rua. Giuseppe faleceu em 1961 devido à doença de Chagas.

Já em meados dos anos 80, o casarão passou por algumas modificações. A porta de acesso foi reposicionada na lateral da casa, garantindo mais privacidade aos moradores. Na sala de estar, as mesas e cadeiras foram substituídas por sofás, e a televisão foi introduzida como um equipamento de entretenimento. No entanto, não agradou à família, que preferia ouvir as notícias e músicas no rádio. No corredor, encontrava-se a máquina de costura da Antonia, que costurava roupas para sua família. A máquina ficava próxima da janela, permitindo que Toninha, como era conhecida pelos mais íntimos, admirasse a vista da linha férrea e interagisse com suas amigas na janela. Na cozinha, o tradicional fogão a lenha continuava presente. Os pertences pessoais, como roupas e objetos, eram guardados em baús de madeira, um item comum na época, que servia tanto para armazenamento quanto como elemento decorativo.

Neste registro de setembro de 1981, nos fundos da casa, está minha avó Antonia Garcia Oller Miranda com seu jardim florido no quintal. A foto também revela dois detalhes antigos da casa: a porta lateral que dava para o quintal, fechada em meados dos anos 90, e o modelo de janela guilhotina de madeira do quarto.
Aniversário nos anos 90







Na frente do quarto dos fundos, havia um parreiral de uvas, plantado por Giuseppe Livera, que permaneceu em atividade por anos até ser replantado em outro local.

Nos fundos da casa, havia um pé de jabuticaba, uma mangueira, um galinheiro e uma casinha de depósito. Acordar ao som do galinheiro era uma tradição nesta casa.

Abaixo, temos dois vídeos gravados com relatos sobre a família, através de um tour pela casa.
1º Proprietário: Jeronimo Coelho da Fonseca
2º Proprietário:  Edurado Alves Pereira Caldas (1917)
3º Proprietário: Dr. Cecilio Garrido Ferreira (1946)
4º Proprietário: João Rozendo Marques (1947)
5º Proprietário: Francisco Assis Branquinho (1948)
6º Proprietário: Eugenio Joaquim Machado (1950)
7º Proprietário: Giuseppe Livera (1951)










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