IGNACIO GARCIA MIRANDA - IMIGRANTES ESPANHÓIS
IGNÁCIO GARCIA MIRANDA nasceu em 27 de julho de 1887, na cidade de Laroya, na província de Almería, Andaluzia, Espanha. Era filho de LUIZ GARCIA MARTINS e ANTONIA MIRANDA SANCHEZ, ambos naturais de Almeria, Andaluzia, Espanha.
Registro de nascimento de Ignacia Garcia Miranda
Acervo pessoal da familia Rodrigues & Livera
Em busca de novas oportunidades, a família embarcou
para o Brasil no vapor LES ALPES em 1897, partindo de Málaga, Espanha,
no dia 13 de outubro de 1897, e chegando ao Porto de Santos, São Paulo, em
28 de outubro de 1897.
A viagem foi custeada pelo Governo do Estado de São Paulo, que estava
promovendo a imigração para atender à demanda de mão de obra nas fazendas
paulistas.
Na lista de bordo, consta que LUIZ GARCIA MARTINS tinha 36 anos, era espanhol, agricultor, casado com ANTONIA MIRANDA SÁNCHEZ, de 37 anos, espanhola, e estavam acompanhados de seus cinco filhos:
- IGNÁCIO, com 10 anos;
- DOLORES, com 8 anos;
- MARCIANA, com 6 anos;
- JUAN, com 3 anos;
- JOSÉ, com 2 anos.
No dia 18 de novembro de 1897, chegaram à Hospedaria dos Imigrantes em São Paulo. O registro descreve que LUIZ GARCIA MARTINS tinha 36 anos, era espanhol, agricultor e casado. ANTONIA MIRANDA SÁNCHEZ, por sua vez, tinha 37 anos, era espanhola, agricultora e casada. Ambos eram católicos e tinham como destino Sarandy, sob os cuidados de João Evangelista Guimarães.
Com base em pesquisas, Sarandy poderia ser uma fazenda localizada no município de Jardinópolis, perto de Batatais, São Paulo. Essa fazenda foi uma das maiores e mais importantes do estado, com destaque para o cultivo de café.
Ainda criança, IGNÁCIO adaptou-se ao Brasil, mas manteve o apreço pela vida simples e as tradições herdadas da Espanha. Tornou-se um homem distinto, sempre bem-vestido com um terno de algodão bege, chapéu claro e botas de couro marrom. Sua charrete azul-clara, decorada com pequenas flores na madeira e com um assento coberto de pelego, fazia dele uma figura conhecida e respeitada por onde passava.
Conforme o relato do primo JOSÉ INÁCIO GARCIA RAMOS, eles
trabalharam na fazenda de TOQUINHO
JUNQUEIRA, que tinha uma fazenda de café em Pedregulho. Eles trabalharam
nessa fazenda por um ano, mas o fiscal era muito rigoroso e severo. No entanto,
os espanhóis eram muito unidos e não aceitaram o tratamento que recebiam do
fiscal. LUIZ GARCIA MARTINS, então,
arrendou as terras da família DIOGO,
que é atualmente a Fazenda do Zé
Branquinho. Ele e a família Ramos
foram trabalhar e morar lá. Eles arraram um alqueire de terra (24.200m²), no
enxadão, para plantar batata. Eles comiam fubá e beldroega, para juntar
dinheiro e comprar as futuras terras.
Cassiano, irmão de Inácia Rita de Jesus, de Patrocínio Paulista, tinha algumas terras que pertenciam a uma parte da família de espanhóis. IGNÁCIO GARCIA MIRANDA, filho mais velho de LUIZ GARCIA MARTINS, perguntou se eles não venderiam uma parte dessas terras, mas eles recusaram a proposta. No entanto, o outro dono das terras, POPE, soube da situação e disse que venderia uma parte das terras para IGNÁCIO GARCIA MIRANDA, afirmando que confiava muito nele.
IGNÁCIO GARCIA MIRANDA comprou as terras e derrubou as árvores com machado para plantar café, que na época era o principal produto. Depois, ele se casou com MARIA DO CARMO OLLER GRANADO.
Em 1910, casou-se com MARIA DEL CARMEN OLLER GRANADO, nascida em 1887, em Cantoria, na Espanha, filha de GINES OLLER RAMOS e MARIA JOSEFA GRANADO PEREZ, também espanhóis. Juntos, tiveram dez filhos:
- LUIZ GARCIA OLLER - Crystaes (1911–1985)
- ANTONIA GARCIA OLLER - Crystaes (1913–1914)
- MARIA GARCIA OLLER - Crystaes (1915–Falecida)
- CARMEN GARCIA OLLER - Crystaes (1918–Falecida)
- DOLORES GARCIA OLLER - Crystaes (1920–1979)
- ANTONIA GARCIA OLLER - Crystaes (1923–Falecido)
- INÁCIO GARCIA OLLER - Crystaes (1925–1991)
- GINET GARCIA OLLER - Crystaes (1927–1990)
- JOSEFA GARCIA OLLER (1930–1937)
- MERCEDES GARCIA OLLER - Crystaes (1933–Falecida)
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Casamento Civil de Ignácio Garcia Miranda e Maria do Carmo |
“Faço saber que pretendem se casar perante a lei civil os hespanhóis Ignácio García Miranda e dona Carmen Oller Granado. Ele é filho legítimo de Luiz García Martins e dona Antônia Miranda Sanchez, natural da Hespanha, com 23 anos de idade, solteiro, de profissão lavrador, residente neste distrito. Ela filha legítima de Ginés Oller Ramos e dona Maria Granado Pérez, natural da Hespanha, com 23 anos de idade, solteira, profissão doméstica, residente neste distrito. Cartório de Paz de Franca, 27 de agosto de 1910"
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Casamento Religioso de Ignácio Garcia Miranda e Maria do Carmo |
“Aos 10 de setembro de 1910, nesta Igreja Matriz de Franca, após realizadas as diligências canônicas e não havendo impedimento algum, receberam o sacramento do matrimônio Ignácio García Miranda e Carmela Oller Granado. Ele, com 23 anos de idade, filho legítimo de Luiz García Martins e Antônia Miranda Sanches, natural de Almanzora, província de Almería, Espanha, residente nesta paróquia. Ela, com 23 anos de idade, filha legítima de Ginés Oller Ramos e Maria Granado Pérez, natural de Almanzora, província de Almería, Espanha, residente nesta paróquia. ”
O casal viveu no Sítio Cabeceira do Barreiro, no distrito de Cristais, na comarca de Franca, onde trabalhavam com o cultivo de café.
Os primeiros filhos nasceram em uma casa de capim. Com o tempo, eles prosperaram com o cultivo de café e chegaram a ter uma máquina de café. No entanto, em 1932, ele quebrou devido à crise no mercado do café, teve que queimar o café.
A
crise do café de 1932 foi resultado de um colapso que começou no final dos anos
1920, causado pela superprodução e pela queda drástica dos preços
internacionais. O Brasil, na época, foi o maior produtor de café do mundo, e o
café foi uma das principais fontes de receita do país.
Entre
as principais causas da crise foram a Grande Depressão de 1929, que prejudicou
drasticamente a demanda mundial por produtos como o café. Com uma oferta muito
maior do que a demanda, os preços despencaram, deixando muitos produtores em
dificuldades financeiras. O governo brasileiro tentou intervir comprando e
queimando estoques de café para reduzir a oferta e sustentar os preços, mas
essas ações não conseguiram reverter totalmente a crise.
A crise afetou profundamente os produtores de café, especialmente os pequenos e médios, que tinham dívidas acumuladas e já estavam fragilizados. Muitas perderam suas plantações e enfrentaram dificuldades para manter a produção. Isso também impactou a economia nacional, já que o café era uma grande fonte de exportações, resultando em uma fase de instabilidade econômica e política no Brasil.
IGNÁCIO GARCIA MIRANDA relatou que, quando uma pessoa quebra,
para reabilitar sua vida novamente e, se for inteligente, precisa de no mínimo
10 anos para se restabelecer. Com menos tempo, não consegue. Era um dado
estatístico da época, que se aplica até hoje em grandes negócios.
Uma
vez, ele pediu dinheiro emprestado para o Saeg, que tinha um açougue, mas, por
azar, alguém matou o Saeg com uma facada no pescoço. A polícia achou que
poderia ser Ignacio por conta dessa dúvida. A sorte dele foi que uma testemunha
viu a cena do crime e informou à polícia sobre os verdadeiros criminosos, e os
2 assassinos foram presos.
O pessoal que trabalhava na Mogiana, na Chave da Taquara, tinha um lenheiro e um depósito de lenha, que alimentava os trens a vapor. Junto com a lenha, havia muita casca. O lenheiro, com dó de Ignacio, que ainda tinha essa dívida, sugeriu que ele pegasse um carroção com seus filhos para coletar essas cascas e secar o café, assim conseguiria pagar suas dívidas. Ele fez exatamente o que o lenheiro sugeriu e, além disso, retirou o capim das estradas para secar o café. Nesse período, ele colheu muito café e quase pagou toda dívida. Um homem que morava em Cristais Paulista e gostava muito de Ignácio pediu para a família de Saeg levantar a hipoteca e acabar com a dívida, já que a família estava há anos pagando juros e sofrendo. Assim, a família fez. Em dois anos o Ignácio conseguiu comprar mais dois sítios.
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Tio Pedro, Carmen, Inácio, Antonia, Gines, Dolores, Maria, Maria do Carmo, Mercedes, Ignácio e Luiz |
O
nome do sítio dele era Cabeceira do Barreiro, porque perto da rodovia havia um
brejo. Eles plantavam verduras lá, e por isso o nome Cabeceira do Barreiro.
Na época, era comum que os filhos casassem mais tarde para ajudar nas atividades da família. A maioria dos filhos de Ignácio casou depois dos 30 anos. Ignácio tinha uma sanfona que animava as festas que aconteciam no sítio da Cabeceira do Barreiro.
- LUIZ GARCIA OLLER nasceu em 10 de junho de 1911, em Crystaes (Cristais Paulista). Casou-se com Mirair Custódio Moreira Oller, nascida em 17 de outubro de 1912, em Franca. O casamento ocorreu em 4 de novembro de 1950, em Guapuã, Franca, São Paulo, Brasil. Dessa união nasceu Maria das Graças Garcia Oller. Luiz faleceu em 23 de setembro de 1985, em Franca, São Paulo, Brasil, e Mirair faleceu em 24 de março de 2004.
- ANTONIA GARCIA OLLER nasceu em 30 de março de 1913, em Crystaes (atual Cristais Paulista) e faleceu em 18 de julho de 1914, em Crystaes (atual Cristais Paulista).
- MARIA GARCIA OLLER nasceu em 29 de agosto de 1915, em Crystaes (atual Cristais Paulista). Casou-se com Jeronimo Guilherme Ramos, nascido em 4 de setembro de 1928. O casamento ocorreu em 4 de novembro de 1950, em Guapuã, Franca, São Paulo, Brasil. Dessa união nasceu José Inácio Garcia Ramos.
- CARMEN GARCIA OLLER nasceu em 10 de setembro de 1918, em Crystaes (atual Cristais Paulista). Casou-se com Lourenço Aguila Garcia, nascido em 11 de abril de 1927, em Crystaes (atual Cristais Paulista). O casamento ocorreu em 7 de maio de 1952, em Guapuã, Franca, São Paulo, Brasil. Eles não tiveram filhos.
- DOLORES GARCIA OLLER nasceu em 13 de outubro de 1920, em Crystaes (atual Cristais Paulista). Não se casou e não teve filhos. Faleceu em 9 de novembro de 1979, em Franca, São Paulo, Brasil.
- GINES GARCIA OLLER nasceu em 23 de agosto de 1923, em Crystaes (atual Cristais Paulista). Casou-se com Tereza Aguila Garcia Oller, nascida em 8 de dezembro de 1929, em Crystaes (atual Cristais Paulista). O casamento ocorreu em 20 de janeiro de 1951, em Guapuã, Franca, São Paulo, Brasil. Dessa união nasceu Celia Garcia Oller.
- ANTONIA GARCIA OLLER nasceu em 12 de março de 1925, em Crystaes (atual Cristais Paulista). Casou-se com Antonio Livera, nascido em 12 de novembro de 1927, em Crystaes (atual Cristais Paulista). O casamento ocorreu em 1º de julho de 1957, em Guapuã, Franca, São Paulo, Brasil. Dessa união nasceram José Inácio Livera e Maria do Carmo Livera. Antonia faleceu em 9 de agosto de 1991, em Barretos, São Paulo, Brasil, e Antonio faleceu em 17 de abril de 2016, em Cristais Paulista.
- INÁCIO GARCIA MIRANDA FILHO nasceu em 20 de agosto de 1927, em Crystaes (atual Cristais Paulista). Casou-se com Josefa Aguila Garcia Miranda, nascida em 26 de outubro de 1932, em Crystaes (atual Cristais Paulista). O casamento ocorreu em 26 de maio de 1951, em Guapuã, Franca, São Paulo, Brasil.
- JOSEPHA GARCIA OLLER nasceu em 14 de novembro de 1930, em Crystaes (atual Cristais Paulista) e faleceu em 13 de dezembro de 1937, em Crystaes (atual Cristais Paulista).
- MERCEDES GARCIA OLLER nasceu em 25 de dezembro de 1933, em Crystaes (atual Cristais Paulista). Casou-se com Sebastião Valeriano Baptista, nascido em 27 de janeiro de 1934. O casamento ocorreu em 25 de julho de 1953, em Guapuã, Franca, São Paulo, Brasil.
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Certidão do Estrangeiro de Maria do Carmo Oller Granado |
IGNÁCIO era conhecido por sua apreciação pela comida caseira. Tinha especial apreço pelo pão fresco feito por sua nora, MIRAIR, que sempre o recebia com carinho para que ele provasse o pão recém-saído do forno. Outra de suas delícias favoritas era a sopa de macarrão com legumes e carne moída, acompanhada de caldo de feijão, uma receita especial de MIRAIR que ele degustava com satisfação.
O Sítio Cabeceira do Barreiro guardava suas mais
queridas lembranças em família. IGNÁCIO também possuía um guarda-louça com
xícaras adornadas com enfeites de flores e dourado, incluindo uma imponente
jarra que sempre adornava a mesa da sala. Esses objetos, embora alguns tenham
se perdido com o tempo, carregavam memórias duradouras e representavam a
simplicidade que permeava sua vida.
Sua filha DOLORES preparava um pão espanhol com
torresmo, grande e redondo, cujo aroma preenchia a casa inteira ao ser assado
no forno a lenha.
Nas visitas à cidade, IGNÁCIO costumava ir ao
barbeiro ANTÔNIO, em Cristais Paulista. Antes de cortar o cabelo, passava pela
casa de um dos filhos para um café da manhã em família e, ao voltar, apreciava
a tradicional macarronada de sua nora MIRAIR, preparada com queijo mineiro e frango
caipira ao molho de batatas.
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Certidão do Estrangeiro de Ignácio Garcia Miranda |
Além dos objetos e tradições, as conversas longas e
afetuosas com sua filha TUNINA foram tesouros que ele preservou por toda a
vida. Ela era uma presença constante e amiga, compartilhando momentos de
risadas e reflexões. A lembrança desses encontros, o cheiro de café fresco e o
som da chuva caindo sobre o campo eram imagens que ele mantinha vivas em seu
coração.
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