COMO ENCONTRAR O REGISTRO DE NASCIMENTO DE SEU ANTEPASSADO IMIGRANTE

Minha família iniciou a saga para descobrir a cidade natal do meu bisavô espanhol, Ignacio Garcia Miranda, e da minha bisavó, Maria do Carmo Oller Granado. Diferente da Itália, onde há registros civis e de batismo religioso disponíveis para pesquisa no FamilySearch, a Espanha possui uma comunidade mais restrita, com poucos registros acessíveis na plataforma.

A melhor forma de descobrir isso é analisando registros de nascimento, batismo, óbito, casamento ou certidões de estrangeiros no Brasil que possam indicar o local de origem, permitindo assim encontrar o registro de nascimento do seu antepassado.

Family Search

A principal plataforma de registros disponível gratuitamente no Brasil é o FamilySearch, administrado por A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Trata-se de uma plataforma de genealogia que disponibiliza registros civis, religiosos e outros documentos, permitindo que a comunidade construa sua árvore genealógica e resgate suas raízes, tanto no Brasil quanto no exterior. 

Lista de Bordo

O primeiro documento que você deve buscar é a lista de bordo, pois ela pode ajudar a determinar o período em que seu antepassado chegou ao Brasil. Dificilmente constará o nome da cidade natal; normalmente, apenas a nacionalidade ou o país de embarque são informados. Por exemplo: "Espanhol que embarcou na Espanha".

No meu caso, apenas uma lista de bordo mencionava a cidade de origem dos meus antepassados italianos, que eram de Agira, na Itália. Esse documento datava de 1893, referente ao vapor Rio de Janeiro, e apresentava essa informação com mais clareza. Talvez, neste documento, você também possa encontrar esse dado.

Um dado curioso: era comum que algumas pessoas embarcassem escondidas, sem pagar pela viagem, e, por isso, seus nomes não eram registrados na lista de bordo. Isso ocorria principalmente com crianças, que eram mais fáceis de serem escondidas. Na minha família, minha bisavó, Maria do Carmo Oller Granado, e sua irmã, Francisca Raymunda Oller Granado, viajaram dessa forma, razão pela qual seus nomes não constam na lista de bordo nem no registro da hospedaria em São Paulo.


Esse documento pode ser pesquisado no site do Museu da Imigração (museudaimigracao.org.br) ou no acervo do Arquivo Nacional (sian.an.gov.br).

Hospedaria dos Imigrantes em São Paulo

A hospedaria foi um ponto de encontro de diversos imigrantes que vieram para o Brasil no final do século 19 e início do século 20. No registro de matrícula, constavam algumas informações pessoais desses imigrantes e seu destino em terras brasileiras.

Com esse registro, era possível cruzar alguns dados e até confirmar supostos óbitos durante a viagem. No caso da minha família, dois integrantes – um italiano e um espanhol – faleceram a bordo. Era comum riscarem o nome da pessoa falecida na lista de bordo e, no registro de matrícula da hospedaria, seu nome não constava, confirmando assim o óbito.

Mas o dado mais importante é o destino da família – ou seja, para qual fazenda ou localidade eles foram morar. Essa informação, combinada com a data de chegada, pode ajudar a descobrir quais integrantes realmente nasceram no Brasil e, a partir desses registros brasileiros, buscar mais dados sobre a origem dos antepassados.

Esse documento pode ser pesquisado no site do Museu da Imigração (museudaimigracao.org.br) ou na plataforma do FamilySearch.

Registro de nascimento

Caso o imigrante tivesse tido filhos no Brasil, as chances de encontrar o nome da cidade natal seriam maiores, especialmente nos registros mais antigos, que preservavam essas informações com mais precisão. A maioria dos imigrantes indicava apenas o nome da região de onde vieram, como, por exemplo, 'Província de Almería' ou 'Província de Granada', o que tornava o dado muito genérico.

Durante minha pesquisa, percebi que alguns registros de nascimento, principalmente os declarados no final do século 19 e início do século 20, continham informações mais detalhadas, incluindo o nome da cidade de origem. No entanto, isso é basicamente um jogo de sorte e azar – você pode encontrar essa informação ou não.

No meu caso, encontrei dois registros de nascimento que mencionavam o nome da cidade de origem dos meus antepassados espanhóis. O primeiro foi o registro de nascimento do meu tio Pedro Antonio Oller Granado, irmão da minha bisavó Maria do Carmo Oller Granado, que nasceu em 21 de novembro de 1898, em Patrocínio Paulista, São Paulo.

Neste documento, minha trisavó Maria Josepha Granado Peres foi a declarante do nascimento – algo raro na época, já que era mais comum o pai ser o declarante. Nele, ela informa que eram naturais de Cantoria, na província de Almería, Espanha. Ela teria se casado com seu marido, Gines Oller Ramos, na cidade de 'Albulia', que provavelmente seja Arboleas, localizada próxima a Cantoria.

Outro ponto importante é que, nesse documento, o nome de Maria Josepha Granado Peres aparece completo, enquanto nos registros posteriores seu nome composto 'Maria Josepha' foi alterado apenas para 'Maria'.

Além disso, o registro contém o nome dos avós, o que permitiu descobrir que os irmãos de Maria Josepha Granado Peres, Pedro e Manoel, também vieram para o Brasil. O documento ainda revela que Pedro Granado Peres foi padrinho de seu sobrinho Pedro Antonio Oller Granado, enquanto Manoel Granado Peres atuou como testemunha no registro de nascimento de seu sobrinho Pedro Antonio Oller Granado.

Outro registro é o de nascimento de Maria Garcia Miranda, irmã do meu bisavô Ignácio Garcia Miranda. Ela nasceu em Patrocínio Paulista, São Paulo, Brasil, em 10 de maio de 1901. 

Neste documento, meu trisavô Luiz Garcia Martins foi o declarante do nascimento, e consta que a minha trisavó Antonia Miranda Sanchez era a mãe da criança. Além disso, informa que eles eram espanhóis, naturais da província de Almería, na cidade de Laroya

Tive acesso a esses documentos depois de muita pesquisa na plataforma do FamilySearch. No entanto, alguns estavam bloqueados, e a única forma de acessá-los era visitando um centro do FamilySearch.

Após algumas visitas ao centro, tive a oportunidade de encontrar esses documentos e ampliar as informações sobre a origem dos meus antepassados.

Registro de Casamento no Civil e Religioso

Nos registros de casamento, era obrigatório informar a idade, o estado civil, a profissão, a região de origem dos noivos e de seus pais. Em alguns cartórios, também era comum registrar os dados das testemunhas, como idade, estado civil e cidade de origem.

Quando você cria um perfil no FamilySearch, ele automaticamente sugere alguns documentos referentes à pessoa do perfil. Isso pode ajudar a encontrar o registro de casamento, tanto civil quanto religioso, além dos registros de nascimento dos filhos e até o registro de óbito. Porém, não é tão simples como parece, visto que muitos registros ainda não foram indexados na plataforma, dificultando a busca por esses documentos. Um caminho mais fácil seria entrar em contato com o cartório civil onde o imigrante poderia ter se casado. No entanto, alguns cartórios cobram para realizar a pesquisa, enquanto outros disponibilizam a informação, e, caso precise do registro, aí sim você paga a taxa para ter acesso ao documento.

Outra possibilidade é realizar a pesquisa dentro dos catálogos da plataforma do FamilySearch. Os registros mais antigos, datados até 1930, tinham sumários que facilitavam a busca pelo documento. Nessa época, era muito comum os homens se casarem com 23 anos e as mulheres entre 18 e 20 anos. Com essa informação, você consegue estimar mais ou menos o período em que a pessoa poderia ter se casado. Quanto à cidade, você pode verificar a cidade natal do filho mais velho do casal; normalmente, os pais se casavam e, logo depois, tinham o primeiro filho.

Porém, em alguns estados, os registros civis são bloqueados, como é o caso da região de São Paulo, onde existe um bloqueio até 1930. Para acessar os documentos, é necessário visitar um centro do FamilySearch.

No meu caso, meu bisavô se casou no civil e no religioso na cidade de Franca-SP, e os registros estavam disponíveis na plataforma do FamilySearch. No registro civil, constava que ele e minha bisavó eram da Espanha, enquanto no registro religioso constava que eram naturais de Almonzora, província de Almería, Espanha. 

Decidi buscar todos os registros de casamento de seus irmãos para ver se encontrava mais informações, mas apenas um registro ofereceu um dado muito importante: o registro de casamento de seu irmão, Antonio García Miranda, que se casou em Ribeirão Corrente. Nesse registro, meu bisavô, Ignacio García Miranda, aparece como testemunha, e o documento indica que ele era casado, lavrador, natural de Laroya, província de Almería, Espanha, residente em Crystaes, e filho de Luiz García Martins.

Decidi solicitar ao cartório civil de Franca-SP o desarquivamento da habilitação de casamento do meu bisavô, Ignacio García Miranda, que se casou em 1910, e de sua irmã, Dolores García Miranda, que se casou em 1906, para obter mais informações. Obviamente, o cartório cobrou uma taxa para encaminhar esse documento. No documento do meu bisavô, não obtive novas informações, mas no documento de sua irmã, constava que ela era natural de Cantoria, província de Almería, Espanha.

Outra possibilidade seria solicitar o desarquivamento do registro de casamento religioso para verificar se há algum registro de batismo ou documento que comprove sua origem. No entanto, no momento, não solicitamos esse documento.

Registro de Óbito

O registro de óbito foi o único documento que não acrescentou muito à pesquisa. Na maioria dos registros de óbito dos antepassados imigrantes, constavam lugares diferentes. Por exemplo, meus trisavós espanhóis tinham no registro de óbito a informação de que eram da província de Almería, na Espanha. No entanto, os registros de seus filhos apresentavam informações divergentes: Dolores teria nascido em Cantoria, província de Almería; Marciana seria da província de Granada, Espanha; e Juan nasceu na província de Almería, Espanha.

Registro de Estrangeiro

Esse é um documento mais difícil de encontrar. O FamilySearch até disponibiliza alguns registros, porém nem todos os documentos foram digitalizados. Uma opção seria verificar com alguns parentes se alguém ficou com esse documento do antepassado ou entrar em contato com o Arquivo Público onde o imigrante foi registrado para verificar se é possível obter uma cópia. Em alguns casos, pode haver até uma fotografia do antepassado.

No meu caso, um primo tinha os registros de estrangeiros dos meus bisavós espanhóis. No entanto, a localização indicada era apenas a província de Almería, sem o nome da cidade de origem.


Registro de civil no país de origem

As cidades que apareceram nos registros como possíveis locais de origem foram Laroya, Almanzora e Cantoria, todas localizadas na província de Almería. Enviei um e-mail para o registro civil dessas cidades solicitando a busca dos registros de nascimento de meus bisavós. Apenas o registro civil de Cantoria respondeu com informações. Eles encontraram o registro de nascimento da minha bisavó, Maria do Carmo Oller Granado, e de sua irmã, Francisca Raymunda Oller Granado, e gentilmente enviaram uma cópia original dos registros por e-mail. Além disso, enviaram pelo correio uma cópia do registro civil da minha bisavó, Maria do Carmo, e um registro negativo informando que meu bisavô não nasceu em Cantoria.

Registro Civil de Cantoria 

Nesse registro, foi possível ver a verdadeira grafia do nome da minha bisavó, de seus pais e avós. O nome dela, em espanhol, era Maria del Carmen Oller Granado e, possivelmente, ao chegar ao Brasil, foi aportuguesado para Maria do Carmo Oller Granado. Já sua irmã era Francisca Raymunda Oller Granado, e não apenas Francisca Oller Granado.




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